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Triângulo da Tristeza - e da ruindade

Filme ruim esse Triângulo da Tristeza que venceu uma pá de prêmios internacionais ao longo de 2022, incluindo o – sem ironia nenhuma – maior prêmio cinematográfico existente, a Palma de Ouro de Cannes.

Venceu, mas sem nenhum merecimento.

A menos que a intenção por trás de uma ideia tenha passado a valer mais do que a execução, ou seja, a menos que o conceito do filme se sobreponha ao resultado final que ele entrega.

Mas, em dias em que o desempenho magnífico de Ana de Armas no péssimo Blonde foi preterido à “apenas” boa performance de Michelle Yeoh no legal mas jamais oscarizável Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, nada surpreende.


A reparação histórica

Antes de seguirmos a debulhação do Triângulo do Óbvio Ululante, convém mencionar que cada vez mais as premiações têm usado o mecanismo da reparação histórica ao invés da análise técnica pura em cima do filme que concorre naquele ano.

Assim, Michelle Yeoh venceu para que tenhamos uma atriz oriental vencedora do Oscar e possamos finalmente encerrar (ou diminuir) a injustiça de décadas em cima das atrizes (e atores, porque não?) não brancas e não caucasianas, preteridas em diversas ocasiões de forma absolutamente preconceituosa.

Mas isso é válido? Ana de Armas, para ficar no caso mais evidente, merecia demais pelo que fez no filme em que emulou Marilyn Monroe à perfeição, mas foi para casa sem a estatueta porque deu azar de concorrer com alguém que a Academia “precisava” ver vencer.

Claro que alguém vai sempre poder responder que, da mesma forma, em anos anteriores, atrizes negras, africanas ou orientais deixaram de vencer (e mesmo ser indicadas) porque a Academia privilegiava brancas.

E assim seguimos tentando reparar erros com... novos erros.

Uma pena.

 

Grosseiro, soberbo, exagerado, óbvio, expositivo e didático

A ideia por trás do filme, como já dissemos, é boa.

E o longa até começa bem, com uma crítica ácida ambientada em um jantar num restaurante onde os dois modelos com QI quase negativo debatem, ou tentam, sobre as questões financeiras relativas ao pagamento das despesas do casal.

Essa primeira parte é muito boa.

Pena que não dura.

Dali em diante, a direção e o roteiro de Ruben Östlund (do ótimo Força Maior) desce a ladeira sem freio, cada vez mais agressivo e escatológico. Cada vez mais didático e expositivo. E mais óbvio.

E o que antes era interessante, passa a ser chocante, diante de sequências incrivelmente longas além do necessário (principalmente a nojeira do jantar e a conversa idiota entre o capitão e o russo, que só serve para criar memes políticos).

Os personagens parecem aqueles estereotipados do Zorra Total e afins, unidimensionais e com seus defeitos explodindo o tempo todo para que os espectadores possam apenas detestá-los, sem a necessidade de qualquer tipo de análise ou ponderação. Pior: parecem todos débeis mentais que jamais conseguiriam o dinheiro que possuem em condições normais, porque a sua “inteligência” não parece suficiente para fazer mais do que comer e falar (desde que isso não ocorra ao mesmo tempo).

E os empregados, por quem deveríamos simpatizar, são tão amorfos que torcemos para terem o mesmo fim dos ricaços quando o iate afunda... e aqui ainda nos questionamos se gente com esse nível de dinheiro se permite sair em um iate que é muito menor e menos luxuoso do que barcos de celebridades ocasionalmente vistos na televisão.

Para piorar, depois do naufrágio, o que era chocante vira um tedioso exercício de soberba cinematográfica, onde a intenção inicial já foi por água abaixo (não teve como evitar o trocadilho) e apenas o que restou é ver acontecer aquilo que já sabemos que vai acontecer, do jeito mais didático possível.

E é interessante que mesmo diante de obviedades ululantes de roteiro, a construção do diretor se contradiga. Por exemplo, quando a empregada se declara a mandatária do grupo da ilha, fazendo todos ali repetirem que ela é quem está no comando, apenas dez segundos depois ela pergunta à sua ex-chefe se “ela poderia” pegar uma determinada coisa para ela. Para alguém que havia acabado de romper os grilhões sociais intangíveis – porém fortíssimos de uma vida toda – à força, e ainda estava no auge de sua insurgência, a mudança de comportamento entrega a fraqueza da narrativa.

Outros exemplos assim permeiam o tedioso longa que desperdiça uma chance incrível de ter um lugar em uma prateleira de respeito no gênero, ao lado de Parasita.

E pra quem gostou do filme porque tem “crítica social” e porque “esculhamba o luxo e os ricos”, ou porque achou “lindo como expõe a podridão do capitalismo em detrimento da exploração dos menos favorecidos”... meu caro, você gosta do tema, não necessariamente do filme. Muitas obras fazem exatamente isso, de forma muito melhor e sem a soberba e pretensão desse exercício de obviedade.


Plágio de um filme igual, mas muito melhor

Como se não bastasse tudo isso, Triângulo da Soberba [do diretor] ainda é um reles plágio de O Mordomo e a Dama (The Admirable Crichton - 1957), sendo que o diretor afirma que jamais assistiu o “original” antigo. Mas a semelhança extrapola demais os limites da inspiração, e sem dúvida o filme de 1957 (baseado em uma peça teatral) tem tudo o que esse agora tem, porém tudo no antigo é melhor.

E isso porque o antigo também é uma sátira e uma crítica aos aristocratas (aka super-ricos europeus do século passado), mas obviamente o tom era outro, pois antes você podia criticar de forma “educada”, enquanto que hoje em dia tudo precisa ser escatológico, grosseiro e agressivo, senão a crítica não “choca” e o seu papel, dizem, não se cumpre – e em momentos como esse, Não Olhe para Cima daria uma piscadela cínica a todos, se fosse uma pessoa e não um filme.

 

Conclusão

O diretor parece o tempo todo querer mostrar que está rodando uma obra-prima descolada e utilíssima, mas se obriga a explicar cada cena de forma quase escolar, para garantir que todos entendam o que está ocorrendo. Sua necessidade de se autobajular o faz estender o filme por uma hora além do necessário, o que autossabota a obra e a faz piorar a cada minuto, até o final – no qual ele inclui uma tentativa tosca de plot twist que da um ar ainda mais pastelão ao longa que traz os personagens mais unilaterais e estereotipados da História do Oscar.

Não arrisque: se quer assistir sátiras/críticas fortes [e boas] contra quem fica no topo da pirâmide social, vá de Parasita, O Menu, O Mordomo e a Dama, Metrópolis, Aniversário Sangrento, A Caça, Corra, Os Miseráveis, Expresso do Amanhã...



Obs: Não se deixe intimidar pela crítica majoritariamente favorável ao filme (como no boboca A Filha Perdida), pois é possível encontrar pelo Google diversas críticas que apontam os defeitos de Triângulo da Escatologia e fogem da voz quase uníssona do elogio.

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2 Comentários

  1. filminho idiota e cheio de critico adorando so por causa da critica social meu Deus como a avaliacao cinematografica anda mediocre, eu achava que CODA ganhar oscar era o fundo do poço, me enganei

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  2. o filme é ruinzinho mesmo mas engana bem algumas pessoas que ficam "oooh, que critica social incrivel!" que porcaria

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