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Bela Vingança - Bela Porcaria

 

Pode não ser pra tanto, de fato.

Pois é, talvez Bela Vingança não seja tão ruim para ser chamado de “porcaria”. Talvez. Mas é um filme tecnicamente bem ruim, independente de ser socialmente bem intencionado e ajudar na árdua luta de conscientização da sociedade contra os abusos retratados na história.

Na verdade o resultado final ficou tão aquém do ideal que só as incompreensíveis (ou não) indicações a prêmios é que serviram para ressonar a mensagem do longa.

Como não poderia deixar de ser, este texto tem spoilers.


Não se discute a boa intenção do filme e a sua serventia

Esse é o típico caso em que - em um mundo polarizado - os dois lados vão achar motivos para discordar. A lacrosfera não aceita que um filme panfletário possa ser mal avaliado, ou que mesmo sendo ruim, não receba elogios apenas pela bandeira que levanta, e, por outro lado, a maioria dos que praticam atos iguais ou “mais ou menos” iguais os do filme (ou que não praticam mas que acham que criticar isso é “mimimi”), além dos misóginos, machistas e afins, vão negar até mesmo a boa intenção da obra, que é justamente a de mostrar o comportamento sórdido dos homens que se aproveitam e/ou abusam das mulheres que não estão 100% conscientes de suas ações.


Mas o filme venceu vários prêmios então ele é bom

Na verdade essa imagem que muitos têm da obra não é verdadeira. Bela Vingança venceu poucos prêmios, principalmente de melhor roteiro (um deles no Oscar), e nada mais. Convenhamos, por todo o barulho que o longa conseguiu, é bem pouco. Mas é até mais do que merecia, e com certeza só conquistou essas láureas justamente por seu papel relevante na conscientização acerca do problema dos abusos que o filme aborda.


Como um filme que leva um Oscar não é bom?

Infelizmente, o Oscar está longe de ser uma métrica qualitativa muito confiável. Claro que no geral, na média, a qualidade técnica acaba privilegiada e sai vencedora. Mas são notórios os muitos – muitos mesmo – casos que confirmam que não é ocasional que filmes não merecedores levem para casa os carecas dourados. Pelos mais diversos motivos, inclusive os “politicamente corretos”.

Aliás foi justamente em nome do politicamente correto que o roteiro fraco e cheio de idiossincrasias de Bela Vingança venceu Os 7 de Chicago ou O Som do Silêncio, só para comparar com dois outros concorrentes muito mais gabaritados. Do mesmo modo, foi por isso que colocaram Bela Vingança pra concorrer a melhor filme. E a indicação de melhor diretor foi um prêmio de consolação para a diretora que se esforçou em sua mensagem contra o abuso, isso ninguém pode negar.


Histórico de filmes ruins premiados

O Oscar, por ser estadunidense, acaba sendo pelo menos aqui no Brasil o prêmio de cinema mais prestigiado, o que é um erro enorme. Claro que o valor que uma estatueta da Academia agrega a um filme é enorme e potencializa os lucros, mas tecnicamente a Palma de Ouro, o Leão de Ouro e o Urso de Ouro são prêmios muito mais cobiçados do ponto de vista artístico.

Um dos motivos para isso é justamente o fato do Oscar premiar filmes que tecnicamente “jamais” mereceriam aquele prêmio. Rocky, Crash, Shakespeare Apaixonado, O Discurso do Rei e Beleza Americana, dentre outros, já venceram o prêmio de melhor filme por exemplo, mesmo sendo no máximo medianos.

Rocky é um dos meus filmes prediletos, só para deixar claro. Mas isso não significa que seja um grande filme. E ele não pode sequer ser comparado com a obra-prima Taxi Driver, de quem ele “roubou” o Oscar de 1977.

E fazendo uma comparação mais pertinente, quem não se recorda do caso recente do filme Bohemian Rhapsody vencer a categoria de melhor edição com uma edição... ruim?! Inclusive o próprio editor admitiu falhas na edição!

Algo parecido com o fato de Bela Vingança vencer melhor roteiro... mesmo tendo um roteiro notoriamente falho, sobretudo no terço final do filme. Artigos como o do Cineset por exemplo admitem isso, sem se dar conta de que o vencedor tem que, no mínimo, não ter problemas na categoria em que é premiado. Pode até não ser excelente... mas chegar a ter problemas, é inadmissível.

Ou seja, você pode ter um vencedor de melhor edição com uma edição certinha, básica e bem feita, mesmo não sendo espetacular. Mas uma edição cheia de problemas não. Do mesmo modo você pode ter um vencedor de melhor roteiro com um script ajustado, conservador e redondinho, mesmo sem ser maravilhoso. Mas não um roteiro com erros e problemas.

E sempre é bom lembrar que outras premiações também acabam às vezes premiando filmes injustamente, pelos mesmos motivos.


Novamente: o filme vale mais pela intenção

A quase totalidade das críticas de Bela Vingança foca no tema dele ser pertinente, na boa notícia que é ter um filme mainstream botando o dedo em uma ferida polêmica (quando normalmente filmes sobre isso são underground ou B, como a “franquia” Doce Vingança e tudo o mais inspirado no famigerado original I Spit on Your Grave).

Poucas críticas falam que o filme é realmente bom e mesmo as que fazem, não justificam tecnicamente essa afirmação. Até porque não conseguiriam.

Uma amiga que é colunista em um grande portal me falou que elogiou o filme para não dar chance de ver sua mensagem diminuída, mesmo não tendo gostado dele.

É compreensível.

Marina Lourenço, da Folha, por exemplo, elogiou mais a maneira como o longa mostra que o estuprador "real" muitas vezes não é um marginal que ataca alguém em um beco escuro do que qualidades técnicas.

Mariane Morisawa, do Universa, focou na motivação por trás da diretora e roteirista Emerald Fennell e do que ela imaginava para o filme. Mas nada sobre sua virtuosidade como filme.

A maioria das críticas, como já dito, vai nessa linha, elogiando a intenção, a mensagem, a pertinência do tema, mas quase nunca a qualidade técnica.


A realidade é que o filme é ruim

A diretora já declarou que tentou dar ao seu manifesto um ar de comédia agridoce. E esse é um dos problemas comum a esse tipo de tentativa: o resultado final não é algo completo. No caso, não temos comédia dramática, nem suspense, nem drama... o filme ficou naquele limbo de personalidade, sem saber bem o que é.

Vemos cartazes categorizando o filme ora como terror, ora como suspense. A diretora, em entrevistas, classificou o filme ora como comédia de humor negro, ora como comédia dramática.

Isso mostra que tentou-se fazer muita coisa ao mesmo tempo, e no fim o filme não ficou sendo “nada”, em termos de gênero. Uma autosabotagem que só enfraquece a única coisa boa do filme: a mensagem que ele quer passar.

Afinal, é uma comédia, um suspense ou um terror?

Para “ajudar”, a escolha dos atores mostrou-se lamentável. Carey Mulligan é boa atriz, todos concordam, mas tem que rolar muita suspensão de descrença para aceitar ela como a personagem Cassie, definida como uma “jovem, linda e loura”, que aparenta muito mais idade do que uma suposta pós-adolescente que mora com os pais e não quer nada da vida. Mas o problema fica mesmo com o resto do casting principal, encabeçado pelo medonho Bo Burnham cuja performance na cena em que é “desmascarado” por Cassie pareceu amadora de tão ruim.

Cena em que o namorado de Cassie é desmascarado
tem atuação terrível de ambos, mas principalmente do ator Bo Burnham

E, por fim, temos os problemas do roteiro, que nos mostra uma pessoa que tem como missão de vida dar sustinhos em abusadores. Sim, a terrível vingança de Cassie é dar uma lição de moral nos homens que iam estuprá-la. Nada de denúncias, polícia, exposição... nada. Só sustos para que eles, por conta própria, percebam como estão errados.

Que fofinha essa Cassie!

E quando ela parece querer fazer algo mais contundente... morre tolamente. Em um desperdício de narrativa que vai contra o “objetivo” que o filme tão bem intencionado tem, como bem frisou Renata Corrêa em sua bela crítica no Splash do UOL,uma das poucas que admitiu que o filme é ruim de fato (clique aqui e veja a posição de uma feminista sobre o filme).

E não nos atemos às outras pequenas idiossincrasias do roteiro, que inclusive peca ao apelar pro sexismo e outros tópicos inadequados mesmo que a mensagem seja de desconstruí-los, algo que podemos ver também em Vingança, de Coralie Fargeat (2017), que, pelo menos, se assumiu absurdo e exagerado como um rape revenge típico.

Comédia "sessão da tarde"?!


Conclusão

Bela Vingança tem boa intenção, é pertinente e cumpriu sua missão, chamando a atenção para uma prática que muita gente (não só homens) acha “nada de mais”, quando se trata na verdade de crime. Mas é um filminho ruim e cheio de problemas técnicos, que só foi premiado porque queriam ver sua mensagem repercutir o máximo possível.


Obs:

O filme tem outros diversos problemas ligados às questões feministas, pouco abordados em português. E questões técnicas também. Para quem quer se aprofundar no tema, seguem links em inglês que explicam um pouco melhor a questão:

https://www.womensrepublic.net/promising-young-woman-a-disappointed-feminists-review/

https://observer.com/2021/04/promising-young-woman-review/

https://inews.co.uk/culture/film/the-problem-with-promising-young-woman-its-a-cop-out-947593

https://yr.media/arts-culture/promising-young-woman-film-no-joy-in-reflecting-on-rape/

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6 Comentários

  1. uma droga... um engana trouxa... e um monte de descabeçado no Facebook elogiando essa droga

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  2. idiotice completa esse filme

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  3. maior decepção do ano... e todo mundo me recomendando esse lixo pqp que falta de senso critico as pessoas tem

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  4. um engodo completo, e muita gente embarcando nisso

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  5. obra terrível que atenta contra o feminismo e tem tudo de errado e ruim que um filme pode ter, mesmo assim um bando de mané elogia so pq a mensagem é legal e a atriz é boa

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  6. linkar os artigos feministas é legal pq quebra o discurso dos e das feministas que chegam pra ler cheios de veneno hahaha boa

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