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A Filha Perdida: tempo perdido

A magistral Olivia Colman coprotagonista ao lado de Jessie Buckley, amparada por coadjuvantes do quilate de Ed Harris e Peter Sarsgaard. Ambos dirigidos pela oscarizada Maggie Gyllenhaal. E ainda a Dakota Johnson de brinde (não é boa atriz, mas dá um charme a mais ao filme). Tudo isso ambientado na Grécia.

Não tem como ser um filme ruim, certo? Claro que não! As críticas inclusive já o colocam como um dos favoritos ao Oscar!

Uau.

Calma. Vamos ver mais atentamente isso tudo, para que você não precise perder seu tempo como eu perdi o meu ao assistir o insosso longa que adaptou o livro de Elena Ferrante.

Lembrando que o filme ser ruim não impede ninguém de gostar dele e até achar o drama da protagonista relevante.

Como não poderia deixar de ser, este texto tem spoilers.


Críticas boas... mas quase todas focam na personagem

A crítica especializada tem elogiado bastante o filme. Mas assim como em BelaVingança, quase todos os elogios não são sobre o filme como um todo, pois no caso da Filha Perdida, se focam na persona interessante da protagonista e nas atuações das duas atrizes que a encarnam.

Seria como dizer que os filmes da Xuxa são bons porque as músicas deles são legais para o público alvo, esquecendo os problemas de roteiro, diálogos, atuações, fotografia, edição, direção, iluminação, sonorização, montagem, etc.

Pouco ou quase nada se vê de elogio técnico ao Filha Perdida.

Talvez porque, tecnicamente, o filme seja muito ruim (talvez uma exceção à fotografia adequada).

Inclusive, a crítica do Observatório do Cinema chega a admitir os problemas técnicos, ao dizer que “Pelo roteiro e direção, testemunhamos algo tão inconstante que só podemos concluir que sempre foi esta a intenção de Maggie Gyllenhaal desde o começo”. Pois é... onde eles viram intenção, eu vi falhas mesmo. Até, talvez, pela inexperiência da diretora. Muitas outras críticas que pipocam na Internet também criticam o roteiro e a direção, sem achar que os problemas sejam intencionais.

Mas a maioria das críticas positivas focam mesmo na atuação das atrizes e nas facetas da personagem principal, como a da Gazeta, que elogia a protagonista, chamando-a de “complexa”, e diz que o filme é intimista e que cabe a nós julgarmos os atos dela. Bom, um filme deixar os atos de um personagem para serem avaliados pela audiência não é necessariamente uma virtude. Mas sigamos.

A crítica da revista Bula vai na mesma linha. A protagonista é instável, contraditória, impulsiva, etc. Colman está muito bem. Ponto. Nada sobre o filme em si, ainda que a conclusão seja de que ele é bom, apenas pelas questões expostas. Invoco aqui novamente o exemplo de um filme da Xuxa: um aspecto bom não invalida vários outros ruins.

Na Folha, a crítica considera a protagonista “complexa e cheia de contradições” (ou seja, um ser humano normal). O texto tece elogios mil à personagem e às atrizes. E novamente, sem embasamento (pelo menos não consta na crítica), a conclusão é que o filme é bom.

Outros exemplos seguem a mesma toada.

 

Nada que impeça o Oscar de ir para a estante de Maggie

Como já vimos muitas – muitas mesmo – vezes, os problemas do filme não impedirão, necessariamente, a vinda da estatueta. O careca brilhante já premiou a pavorosa edição de Bohemian Rhapsody e o roteiro bisonho de Bela Vingança, recentemente. Nada é impossível.

Falando em Bela Vingança, no texto sobre aquela bela porcaria há um estudo sucinto sobre as obras que venceram Oscars sem o mínimo de merecimento. E são muitas, ao longo da história da premiação. E a Internet está coalhada de artigos nesse sentido, ou seja, nesse caso não se trata de uma tese aqui do Fax Modem.

O Oscar, infelizmente, não é uma baliza certeira de qualidade.

 

Mea culpa

O filme é tão insosso, tão sem saída, que para dar algum tipo de tempero à narrativa, para ter pelo menos um elemento chamativo no longa, a montagem colocou o final da história na cena inicial.

Isso é uma confissão explícita de que o filme por si não se sustenta. Claramente se vê que a ideia original não era essa, até porque não há “revelação” ou “consequência” quanto ao final/começo, já que a cena em questão não é resultado das escolhas da personagem ao longo do filme. É apenas algo que... acontece despretensiosamente naquele momento. Se Leda continuasse a dirigir normalmente ao invés de “parar”, absolutamente nada mudaria na história.

Um engodo total. Um mea culpa.

Dakota Johnson já resume seu personagem logo na primeira fala, ao se definir ao marido como alguém [apenas]gostosa. De fato, parece que a atriz foi escalada pela aparência, pois a personagem entra e sai da trama sem qualquer tipo de relevância.


Filme sem sal e sem avanços

Como já dito, algumas críticas, mesmo elogiando o filme, consideraram ruim a direção e o roteiro (ainda que uma, pelo menos, tenha considerado que isso foi intencional).

E, de fato, o que vemos é uma personagem que, ainda que complexa (como se isso por si fosse alguma virtude espetacular), não evolui em nada. Aliás, o filme termina sem que nenhum dos personagens tenha apresentado qualquer tipo de arco narrativo. Eles apenas estão ali fazendo algumas coisas e servindo ao roteiro para propiciar os acontecimentos seguintes da história.

Mesmo a protagonista... se a trama serve para sabermos o que houve no seu passado para que ela hoje seja essa pessoa, digamos, “estranha”, isso é entregue de uma forma tão desconexa que até eventual impacto se perde (e há quem tenha elogiado a maneira como isso foi feito no filme...).

A tal família que chega na praia e é descrita como gente “poderosa e perigosa” na localidade...? Nada. Zero. Passamos o filme esperando algo deles, mas são meros figurantes de luxo. A mãe da criança perdida na praia? Entra e sai igual. Serve apenas de gatilho para a bobagem com a boneca, mas não acrescenta em nada como personagem. O garçom que parece alguém com algo a adicionar à trama? Um reles subterfúgio para um jantar cujos diálogos são só constrangedores, mas nada adicionam. Peter Sarsgaard? Faz basicamente uma ponta, sabotada pela história (o caso dos dois sequer é o motivo da ruptura no passado de Leda). O zelador do apartamento que arrasta uma asinha pra Leda? Necas. Podiam ter escalado alguém amador ali das localidades da filmagem que ninguém notaria a diferença. Aliás, Ed Harris, quem te viu, quem te vê...

Ed Harris... que dó ver você em um papel desses, depois da carreira gloriosa que teve

 

O lance da boneca

Único acontecimento “relevante” no filme inteiro, é tão implausível, que não foi filmado. É apenas contado aos espectadores. Sem ter como mostrar de forma verossímil a personagem entrando no meio das cadeiras do pessoal após todos se revolverem com a volta da criança; sem ter como mostrar Leda fazendo isso de modo que ninguém visse, o filme nos tapeia de novo e não mostra nada. E nem para suspense serve a ocultação: a cena seguinte já revela quem pegou a boneca.

[facepalm]

 

O tal dilema da protagonista

Elogiado como o cerne do filme por muitos, a tal questão que permeia o passado de Leda é um ato escroto e irresponsável, que só alguém muito imbecil é capaz de fazer. Se você ferve de raiva ao saber de um pai que não quis reconhecer um filho e jamais participou de sua vida, deixando a mãe cria-lo sozinha, saiba que ele é bacana perto de Leda.

Só que muita gente a elogiou por sua “coragem”, por ter “enfrentado o modelo social e optado pela carreira”. E muitos quem acham o que Leda fez algo “corajoso”, classificou o filme como “feminista”.

“Ah, mas a maternidade nem sempre é um sonho maravilhoso.” Não. Na verdade, quase nunca é. Nem por isso filhos devem ser abandonados porque alguém acha que tem coisa melhor pra fazer na vida (sim, os papais que o fazem são tão escrotos quanto Leda).

“O filme é uma reflexão sobre a maternidade, um manifesto feminista”. Não. É um estudo (mal feito) de um personagem que não sabe lidar com as escolhas e responsabilidades próprias. Feminismo seria ela decidir não ter filhos para seguir sua carreira.

diálogo inútil para a trama... e constrangedor até o talo


Conclusão

A Filha Perdida seria interessante se tivesse mais alguma qualidade além das contradições da protagonista (bem encenada por duas boas atrizes). Nada mais restou de bom, no entanto. É um filme ruim tecnicamente, que não sai do lugar, não leva a nada. No fim das contas, é uma perda de tempo.

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5 Comentários

  1. kkkkkkk penso como vc, mas se prepara, vai chover gente aqui dizendo que o filme é lindo, denso, sobre maternidade, feminista, maravilho, bla bla bla bla um monte de baboseira

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  2. ok o filme realmente nao sai do lugar, mas a atuação da Colman acho que até faz valer a pena, pq ela faz a gente até se importar com o passado da Leda... mas fica o aviso o filme é chatão de assistir

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  3. so falou bobagem, o filme é maravilhoso, a Olivia tem uma atuação tao boa que ja ta cotada pro Oscar e o filme mal estreiou, a outra atriz que faz ele jovem tb ta maravilhosa, achei o filme incrivel sim, vc que ta vendo problema em tudo

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    1. Meu caro, veja bem, vc acabou corroborando tudo que está no texto, ao só conseguir elogiar o que as críticas positivas já vêm elogiando: a personagem e as atrizes que a representaram. Tire isso e nada sobra de elogiável no filme.

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