Botando Império Contra-Ataca no seu devido lugar

Para começar botando fogo no parquinho, vamos desmistificar esse que é propalado por aí como “o melhor Star Wars” de todos.

O filme está longe de ser fraco como os episódios I e IX, por exemplo. Mas sua posição não é o topo, como veremos aqui, pois ele está abaixo dos melhores filmes da saga (e não, o III não é nem de longe um dos melhores e nem o melhor final de SW, e considerar isso chega a ser um absurdo).

O tal do consenso geral

Como é sabido no fandom e até fora dele, Império Contra-Ataca tem a fama de ser o melhor da saga da Força, inclusive tendo fama por sua qualidade até fora dos adeptos do cinema-pipoca de alto custo (os tais blockbusters, cujos elitistas insistem em denegrir).

Uma pesquisa rápida pela Internet vê que o filme tem as melhores notas técnicas da saga, além da maior admiração dos fãs e críticos. Os sites de classificação como Rotten e afins colocam o Episódio V acima dos demais de SW. Até a métrica M de trilogias classificou o Império Contra-Ataca como o melhor dos Star Wars.

As qualidades do filme

É inegável que o filme do meio da trilogia clássica tem suas virtudes técnicas e, em comparação com os outros dois, um certo aprimoramento narrativo, até porque o Episódio IV foi filmado para ser uma história fechada (ainda que com George Lucas pensando em futuramente terminar sua trilogia, quiçá a saga toda), e o VI, como encerramento, foi uma “conclusão do início ao fim”.

Os personagens apresentados em Uma Nova Esperança ganham mais profundidade? Evidentemente, afinal, a história continuou, certo?

O plot twist mais famoso da História do cinema acontece no filme V? Sim. Mas isso sozinho não pode ser responsável por classificar o filme acima dos demais como um todo.

Os efeitos especiais melhoraram em relação ao antecessor? Sim, com mais dinheiro, a IL&M conseguiu melhorar bastante os efeitos do segundo filme, e a cena no campo de asteróides e a luta de Vader e Luke comprovam isso.

O roteiro é bom? Para um filme sem começo e sem fim, é bom sim, ainda que a sequência inicial com Luke e Solo sirva apenas para justificar as cicatrizes no rosto de Mark Hammil, por exemplo.

Vamos tocar nas feridas

Como visto, é inegável que Império Contra-Ataca tem suas qualidades. Ninguém vai discordar disso.

Mas são tantas assim? A lista acima mostra que não.

Já os problemas... são vários. E a maioria dos fãs hardcore parece fazer uma força tremenda para ignorá-los.

O começo ruim em Hoth

Já no começo, por exemplo, a sequência tosca de Luke com o wampa que o ataca foi pessimamente filmada, tem uma conclusão bisonha – inclusive com cortes e tomadas confusas, que não permitem ver adequadamente o que está acontecendo – e precisou ser melhorada na famosa Edição Especial anos depois, para ficar menos ruim.

Ok, sabemos que a sequência wampônica só foi incluída no filme para justificar as circatrizes no rosto de Hammil, mas que fizessem o servicinho melhor, pelo menos.

E os problemas continuam logo em seguida, com a conveniente morte do taun taun de Solo no resgate de Luke na neve... um animal adaptado ao frio de Hoth, que simplesmente cai e morre de frio, enquanto Solo continua firme e forte. Para se ter uma ideia do quão errado está isso, seria o mesmo que um camelo morrer de calor no deserto enquanto um humano continuasse tranquilinho.

Os Trapalhões em uma aventura no espaço

Depois temos o cerco “meia-bôca” do Império ao planeta gelado, mesmo com Vader em pessoa encarregado da operação, ótimo para permitir a saída dos rebeldes, mas não a de Solo, Leia e Chewie, que entre fugas bobocas em sequência, conseguem se esconder dentro de uma minhoca em um asteróide (rapidamente citarei minha indignação sobre a monstruosa minhoca que cresceu incrivelmente, sem comida, em uma rocha deserta no meio do espaço e ainda por cima dorme com a boca tão aberta que ninguém na Falcon viu seus dentes – e nem entrei no estudo da anatomia do bicho, que é 100% oco por dentro) e acabam na Cidade das Nuvens onde mais uma vez o Império mostra ser quase um grupo dos Trapalhões, já que os oficiais preferiram deixar a Falcon estacionada no mesmo hangar da chegada com a “pegadinha” do hiperdrive avariado – ao invés de retirado ou destruído, claro – ao invés de... quebrar seus motores ou mesmo tirar a nave dali, para que caso uma fuga fosse tentada, ela não se concretizasse por meio do próprio veículo dos fugitivos. Mas não, vamos lá deixar uma chance de escape a la vilão de James Bond ao invés de resolver tudo de uma vez por todas.

O showzinho sem motivo

E o que falar da vontade de Vader de usar Solo no teste de carbonita, ao invés de um prisioneiro qualquer? Arriscou um prejuízo danado – caso Solo falecesse, o Império teria que pagar Fett pela recompensa que ele não receberia de Jabba – sem motivo algum, além de levar Leia e Chewie para ver o congelamento, também sem motivo que justificasse o ato, como se aquilo fosse um show a ser exibido para os demais prisioneiros. E já repararam como Solo desce algemado pelo poço, mas depois que aparece congelado no bloco está com as mãos separadas?

E para quem critica (com razão) o timing cômico ruim de Últimos Jedi, que tal C-3PO trazendo alívio cômico em um momento que era para ser apenas tenso e dramático, como o congelamento em carbonita?

Habilidades baixadas como em Matrix?

Enquanto isso, lembremos que Luke passou por um treinamento instantâneo de mais ou menos três dias e já está em condições de enfrentar Vader, chegando a ferí-lo no ombro durante a luta entre os dois. Lembremos que ao contrário de Rey, que era uma pessoa habituada a combates corporais e com bastão, e cuja adaptação ao sabre de luz, auxiliada pela Força, fez muito mais sentido, Luke era um mero fazendeiro e nele a Força não auxiliava nos combates (com exceção do tiro certeiro de X-Wing em Uma Nova Esperança).

O final

Claro que um “filme do meio” tem que terminar com um cliffhanger para a sequência, mas também não precisava exagerar não é? O final totalmente inconclusivo, disfarçado pela bela cena visual da galáxia em espiral sendo apreciada pelos protagonistas passou totalmente do ponto. Sem falar que o fato de Lando já estar saindo naquele momento para ir em busca do amigo dá uma bela quebrada na lógica da contagem de tempo entre os filmes V e VI, visto o Retorno de Jedi começa cerca de 1 ano após o Império Contra-Ataca, ou seja, Lando ficou 1 bendito ano inteiro com Chewie em Tatoinne de tocaia? Enfim...

Pensando bem...

Como vimos, o Episódio V está cheio de problemas, e nem todos são irrelevantes. Então vem a questão de como esse filme pode ser considerado o melhor de SW. Como é possível? Compará-lo à brilhante conclusão que foi o Retorno de Jedi, por exemplo, se mostra um grave erro (sim, sei que você não gosta dos ewoks, mas eles são mais aceitáveis do que você imagina... confira aqui).

Edit 1: Me recuso a falar do design ridículo da nave do Boba Fett...

Edit 2: Não, não gosto do que a Disney fez com Star Wars. O filme 9 é tão fraco quanto o 1. O 8 tem aquele "assassinato" de personagem com o Luke... apesar que o 7 é excelente e Rogue One é um bom filme.