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Série A Roda do Tempo mistura clichês, CW e TV Record

Concebida pela Amazon para substituir a predileção dos fãs órfãos de Game of Thrones, essa A Roda do Tempo se baseia na série de fantasia literária de enorme sucesso, de mesmo nome.

Infelizmente, efeitos especiais e roteiros que lembram as séries da CW e as novelas da Record (como têm sido dito aqui no Brasil), somados a um amontoado de clichês de dezenas de outras obras parecidas, enfraquecem tanto a série que só a teimosia e a esperança de uma melhora nas temporadas posteriores justifica a insistência em assisti-la.


Os clichês do mal

Como já dito por alguém antes, o clichê por si só nunca é um problema em si. O problema é sempre o uso do clichê de forma... clichê.

Quando você reconhece de imediato elementos de uma trama oriundos de dezenas de outras tramas, já traça conclusões para os caminhos que ela vai percorrer, ou no mínimo identifica elementos que vão se repetir (ou já se repetiram).

Da mesma maneira, nota a pouca criatividade da produção e do roteiro, bem como a tentativa de jogar no seguro e investir em algo que já deu certo antes, para garantir um bom retorno.

Podemos encontrar diversos estudos e análises dos problemas dos clichês mal empregados ou empregados por preguiça e/ou estratégia, para se atingir um resultado bem sucedido antes, como dito acima. Da mesma forma, podemos encontrar análises que citam os bons usos dos clichês, e até os clichês funcionando como autoparódia.

Enfim, apenas para frisar: o problema não é o clichê em si.


A Roda do Tempo mistura tudo que já vimos antes

Vamos assistir a série e nos deparamos com os seguintes caminhos narrativos, imediatamente identificáveis (tudo na primeira metade do primeiro episódio):

- O(s) protagonista(s) vive(m) em um vilarejo ou local isolado e não tem pretensão nenhuma de viver algo grandioso ou aventuresco?

- Uma guerra antiga que dividiu o mundo e encerrou ou impediu um reinado de terror?

- Um messias ou artefato está a regressar (ou a surgir) na atual era pra impedir ou mediar o conflito novo ou a volta do antigo?

- Uma ordem quase mística guarda os segredos antigos do mundo e monitora a volta do messias ou do artefato?

- Um mentor e seu grupo servem de guias para os jovens protagonistas?

- Os jovens protagonistas passarão pelas etapas da Jornada do Herói, incluindo uma resistência inicial (e no meio da trama) em seguir o caminho apontado?

- Uma batalha definitiva se aproxima, envolvendo o messias/artefato, a ordem mística e os jovens protagonistas?

- Há uma força governamental regendo o mundo atual com tirania ou pulso firme?

- Há uma força maligna aguardando nas sombras essa época atual, a serviço do antigo antagonista derrotado?

- Essa força maligna possui agentes/exército (de natureza mais animalesca ou maléfica) e começa a se manifestar atualmente?

- Os protagonistas precisam iniciar a aventura fugindo ou se escondendo para terem chance de desenvolvem suas habilidades para participarem do conflito que se aproxima?

Como se vê, A Roda do Tempo é uma mistura de Senhor dos Anéis com Harry Potter, Jogo dos Tronos, Bússola Dourada, Crônicas de Nárnia, Eragon, uma versão medieval de Star Wars, e também qualquer obra que use os preceitos da Jornada do Herói, e mais qualquer outro filme ou série de fantasia com argumentos parecidos.

 

Mistérios da cultura pop

Sendo algo tão “igual” a tantas outras obras parecidas, difícil entender como a série literária fez o sucesso que fez. Talvez, apesar dos clichês em doses cavalares, a escrita de Robert Jordan seja excepcional. Ou ele saiba, nos livros, trabalhar melhor os elementos que copiou de tantos outros autores.

Como não li os livros (justamente pelo tema tão surrado, jamais me interessei por eles), só posso especular.

Mas a cultura pop vê muito disso: obras que podem não justificar o sucesso que alcançaram inicialmente. Quantos livros melhores e mais bem escritos de fantasia medieval (e sem as enfadonhas descrições quilométricas) não poderiam ter a aceitação que o primeiro livro de Guerra dos Tronos teve? Quantos outros romancezinhos bobocas com seres sobrenaturais não eram muito melhores que Crepúsculo, e foi o livreco em questão que estourou nas vendas?

Mistérios...

 

Os problemas da série

Como já dito, efeitos especiais paupérrimos para uma produção que se almeja de primeira, saltam aos olhos de cara e já despedaçam nossas expectativas (ou esperanças) de ver algo de alta qualidade.

O roteiro também deixa a desejar, atropelando situações e entregando diálogos que lembram – novamente – novelas da Record. Ou séries da CW.

A produção tem muitos baixos e poucos altos. Podemos elogiar as locações reais belíssimas escolhidas para ambientar a série, porém de resto, pouco há de bom. Os figurinos parecem de segunda linha, assim como alguns cenários. Muitas cenas são frustrantes, pois pouco entendemos do que está ocorrendo, e as noções espaciais e temporais são confusas. E o próprio tom da série parece oscilar... em alguns momentos parece que estamos assistindo algo leve e despretensioso, e em outros há violência gráfica e um tom soturno que parece saído de outra série.

(E para quem não vê problemas nisso, basta usar Senhor dos Anéis como exemplo de como uma produção boa consegue exibir momentos ternos e violentos sem criar um choque de estilo)

Por fim, não há como fugir, temos os clichês. Todos os possíveis quando se trata da Jornada do Herói. Jogados na nossa cara sem a menor preocupação ou trabalho em suavizá-los ou disfarçá-los com outra roupagem.

 

Conclusão

A série A Roda do Tempo mostra-se um amontoado de conceitos já exaustivamente explorados em outras séries, filmes, livros e quadrinhos. Sem trazer a isso nada de positivo, ou novo, ou pelo menos uma releitura interessante. Estamos vendo algo que já sabemos como vai terminar. Além disso, a produção não está à altura de sua missão, e entrega um roteiro deficiente e efeitos especiais no mínimo fracos.


Amazon

Gigante mundial do varejo, a Amazon tenta levar seus tentáculos para o streaming através do seu próprio canal, em um caminho percorrido pelos grandes estúdios nos últimos anos, quando passaram a tirar suas obras da Netflix para exibi-las em seus próprios veículos. A Amazon sai bem atrás dos concorrentes, no entanto. Tirando The Boys e O Homem do Castelo Alto, até agora nada de realmente bom foi produzido pelo estúdio.

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